O ser tinha que ser humano - Texto de Segunda

Sabe aquele ditado “quanto mais eu conheço as pessoas mais eu gosto dos meus cachorros”? Pois é, ele passa a fazer sentido em algum ponto da vida, ele não é só um ditado popular. Ele traz uma certa profundidade, mas às vezes a gente tem medo de se afogar nelas, por não querer encarar a verdade como ela é, e depois profundidades assustam.

O ser humano nunca vai saber o quer, o que está fazendo aqui, ele nunca vai se contentar com nada, mesmo que tenha tudo, ainda assim achará que nada tem.

Nada é o bastante, nada conforta, nada alimenta, nada aquece, nada traz alento, nada encoraja, nada basta.

O ser que se diz humano quer apontar seus defeitos, mas não aceita quando você aponta os dele.

Ele quer dar conselhos, mas jamais aceitará quando você fizer o mesmo.

O ser que se acha humano quer ser amado, mas não sabe amar, ele nunca aprenderá distribuir esse sentimento.

Engraçado que tem gente que não sabe nem ser amado.

Não deixa que alguém o ame, reluta, se esquiva.

A gente nunca vai ser bom o bastante para alguém, nunca vai ter amor que baste, nunca vai ter colo que aqueça, nunca vai ter palavras que aconcheguem.

Estranho perceber esses espaços vazios mesmo sabendo preenchê-los, tem gente que os deixa vazio por costume, por não saber receber sentimentos que somam, que acudam e que façam feliz.

O ser não deveria ser humano?

Quantas vezes voltará aqui para amenizar a carga que não sabe carregar?

A gente não pode ser humano exigindo apenas dos outros, querendo o certo apenas do outro, a gente nunca aprendeu ser humano de verdade, a gente nunca ocupará espaço nenhum assim.

É uma pena que a gente nasça sem saber de nada, que dê cabeçadas durante a vida e que quando a gente finalmente reconheça alguns erros e aprenda um por cento da vida é hora de se despedir dela.

É, a vida é mesmo engraçada.

Por que a gente recusa amor, enquanto tem uns por aí que nunca souberam o que é?

Por que a gente corre sempre na direção contrária?

Por que a gente está sempre esperando dos outros e não de nós mesmos?

Será que isso é mesmo ser humano?

Edna Rodrigues

Imagem: acervo pessoal
Plágio é crime.