A falta que faz interpretar



Vou acumulando ocasiões onde me vejo obrigada a explicar o que eu quis passar ao escrever um poema ou uma simples frase, sim, isso incomoda, afinal, espera-se que as pessoas tenham aprendido no ensino fundamental a interpretar o que estão lendo.
É triste ter que explicar o que as entrelinhas dizem, pois se a magia da poesia está aí, ora, é triste a gente ter que traduzir em miúdos uma metáfora, destrincha-la, estripa-la, ora é muito triste.
Vez ou outra me surpreendo tendo que explicar algo óbvio por faltar a arte de interpretar nas pessoas.
Espera-se que saibamos que poesia não se explica, a arte no geral não se explica, ela apenas é.
A literatura é por si só provocadora, instigante, já pensou se todos os autores, artistas plásticos, escultores, fotógrafos, músicos tivessem que explicar a essência do seu trabalho? Já pensou Bukowski explicando sua escrita debochada ou o Machado de Assis explicando seu pessimismo com a humanidade, sua ironia, ou ainda Nietzsche explicando sua frase “Deus está morto”?
Acho desnecessário e até agressivo ter que destrinchar tim tim por tim tim o que escrevi tentando me fazer ser aceita e não, a gente não escreve tentando agradar, porém espera-se que quem por acaso leia interprete, pense e não precise que o autor mastigue e entregue explicado, que sentido teria isso? E que beleza poderia ter?
Como disse um dia Leonardo Sakamoto “falta amor no mundo, mas também falta interpretação de texto”.
A poesia não precisa ser explicada, apenas sentida.
Sinta!
Edna Rodrigues

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