Crônica de Quinta - Minha prisão invisível


Eu sei que lá fora as cores emergem de todos os lados, que as pessoas transitam, que os carros não param, que as flores se abrem, mas eu prefiro ficar aqui na minha bolha. A ansiedade e o medo me fazem recusar ir lá fora explorar as oportunidades, me fazem ficar aqui deitada, inerte como se eu não precisasse nunca mais levantar.
Eles me fazem deixar pra depois o encontro com os amigos, aquele filme novo que está em cartaz, me fazem pensar mil vezes nas coisas simples que tenho que fazer.
Muitas vezes não me reconheço com essas olheiras profundas pelas noites de insônia que deixam meu corpo exausto, não reconheço meus cabelos desgrenhados, não, não é preguiça, me falta forças. Minhas unhas roídas me dizem que preciso reagir, mas me faltam forças, viro pro lado e prefiro encarar a parede, deixar pra depois, bem depois.
Recuso convites por ter medo de sair, por não ter disposição pra me arrumar, recuso conversas por preferir meu silêncio ansioso, por meu cérebro me dizer que não tenho nada mais a dizer. É estranho isso, eu acho muito estranho, me pergunto como foi que cheguei a esse ponto, por que não sinto mais vontade de sair? De conversar? De ver gente?
Por que não tenho mais sorrisos?
Por que os pensamentos martelam tanto minha cabeça?
Por que meu corpo não descansa mais?
Por que minhas mãos suam, tremem?
Por que parece que algo aperta minha garganta e rouba minha respiração?
Por que sinto tanto medo?
São tantas perguntas, são tantos pensamentos, eles me torturam dia e noite.
No auge da minha crise, vi uma foto antiga que me deu um tapa na cara, ela trazia “eu” em outra época, ali estava uma moça de sorriso fácil, bochechas coradas, unhas pintadas, cabelos lavados. Aquela moça que era eu tinha um brilho no olhar que me falta agora, ela tinha um brilho nos cabelos que agora não tem mais, estão opacos e sem vida, ela parecia viva.
Não entendo por que a vida pareceu de repente me deixar, por que ela resolveu evaporar, é tão estranho.
Pareço presa em mim mesma, pareço presa num mundo que eu mesma criei, tento fingir que está tudo bem, mas não está, eu sei que não está, ninguém escolhe se esconder do mundo ou dos amigos, ninguém escolhe ficar longe da família, ninguém se esconde de um dia de sol maravilhoso, mas eu sim, porque a ansiedade e o medo fazem isso comigo, me roubam as forças, me roubam os dias que tenho para viver, me roubam os momentos com pessoas especiais, é estranho isso.
Para os outros parece frescura, preguiça e mais um monte de coisas, mas só eu sei o que é, só eu sei o quanto dói, porque só eu posso sentir, ninguém mais.
Edna Rodrigues 

Imagem: Google


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