Crônica de Quinta - Um mundo cheio de gente vazia
Me
pergunto onde foi que nos perdemos? Por que nos perdemos tanto, onde foi que
nos deixamos virar esse exército de zumbis que devoram ávidos os defeitos uns
dos outros, que enfia o dedo na ferida mesmo sabendo que irá sangrar? Me
pergunto como foi que deixamos nosso coração endurecer tanto? Somos agora
apenas um vazio enorme e escuro.
Aproveitamos
o frenesi dos dias para nos fazer invisível, não queremos ser vistos e enxergar o outro, pra
quê? Esse frenesi nos arrasta rio abaixo nos sufocando, nos afogando, nos
fazendo agonizar.
Não
sabemos mais como lidar com os dias, com o bombardeio de informações vazias que
invadem nosso cotidiano. Nada tem mais importância é tudo descartável, o novo
já não é tão novo assim, pois não temos mais tempo para conhecê-lo, surgem
turbilhões de novidades que enfeitam nossos olhos.
É
frenética a busca por novidade, mesmo que seja vaga e sem importância, são dias
vazios e ao mesmo tempo sufocantes.
Tempo
de pessoas invisíveis com vidas devassadas, elas não têm rosto, são apenas
números. Já não nos conhecemos mais, mas somos amigos.
Somos
vigiados e também vigiamos, somos descartados e também descartamos, somos
curtidos e também curtimos.
Nos
apaixonamos por efeitos, enfeites e não por pessoas, elas ainda são de carne e osso? Ás
vezes acho que são apenas uma ilusão, reluzente, cheias de bondade, que fazem
milhares de coisas ao mesmo tempo.
Estamos
mesmo vivendo um tempo que só existem pessoas bonitas, eficientes, que viajam
pra lugares lindos, que comem bem, que frequentam lugares caros, que são livres
e que são do bem. Será verdade?
Isso
tudo é confuso demais.
Todos
gostam de animais, todos defendem os oprimidos, todos ajudam aos necessitados,
todos têm suas boas ações para mostrar e seu eu de verdade onde você guarda?
Onde você guarda seu lado sujo?
O
mundo não tem mais espaço para pessoas de verdade, a gente inventa quem
quer ser e pronto, mesmo que tudo seja uma mentira a gente acredita.
Tristes
tempos que já não precisamos de alma, alma pra quê? Tristes tempos onde nos
contentamos apenas com aparências, com números que chamamos de amigos, onde a
solidão dói e a gente olha os mil amigos invisíveis, mas não pode contar com nenhum.
Aí na sala está somente você e sua tela fria, fingindo que ela é a companhia ideal, mas
não é, sabemos que o mundo está cheio de pessoas vazias e nos perguntamos o que
preencheria essa lacuna? Ninguém sabe, e o pior é constatar que também somos um deles, fazemos parte desse exército invisível que marcha pra lugar nenhum.
Edna
Rodrigues
Plágio é crime
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